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09 fevereiro 2017

Uma Vitória Para a Eternidade

09 fevereiro 2017 6 Comentários
VENCER OS INVENCÍVEIS. Há 110 ANOS A ASSINALAR AMANHÃ.


Assinala-se esta vitória com um dia de antecedência - quase 24 horas - pelo facto do próximo jogo do Benfica ser sempre o mais importante. E o próximo jogo é frente ao FC Arouca. Amanhã!

No Benfica são os jogos futuros que dão importância aos jogos do passado, que os colocam visíveis e recordados 
A grandeza contínua do Clube é que permite ter memória. Quantos clubes não tiveram grandes resultados, inexcedíveis futebolistas, treinadores e dirigentes que conseguiram proezas extraordinárias que na actualidade estão ignoradas? Os porquês? Por que o futuro menor fez esconder essas proezas passadas maiores. A Memória (o esquecimento) sobrepõe-se em termos de visibilidade imediata à História.

O jogo disputado há 110 anos já foi várias vezes assinalado neste blogue.
Basta clicar (aqui) ler as crónicas da Imprensa da época e ver o enquadramento desse jogo, o dos 2-1, em 10 de Fevereiro de 1907. Não vou repetir. Antes abordá-lo com outra perspectiva. A da invencibilidade do adversário, a importância para 1908, futuro até hoje e por esses amanhãs sem fim à vista...

O jogo, a vitória e o seu significado
Poucos estavam à espera. O adversário não era derrotado há nove anos, desde 22 de Janeiro de 1898. Por isso, não consta que os espectadores fossem muitos. Ao contrário do que ocorreu no jogo seguinte do Clube. Tudo queria ver o "team maravilha" que vencera os invencíveis. O "Gloriosíssimo" começava a deixar o seu cunho na História do Futebol. A Gloriosa História estava a dealbar mas já se mostrava com páginas debruadas a dourado. Na equipa portuguesa jogaram ainda quatro heróis de há nove anos: Emílio Carvalho, António Couto, Daniel Queiroz dos Santos e David José da Fonseca. Facto que ilustra a inteligência dos nossos pioneiros. Juntar à genica dos miúdos de Belém, de início do século XX, a experiência dos casapianos de final do século XIX. Eles sempre acreditaram que seria ser possível repetir 1898. E nem foi necessário esperar muitos anos. Quando em Dezembro de 1903 , no Café do Gonçalves, em Belém, alguém alvitrou «mesmo só com portugueses» é possível ter uma grande equipa, fazer um grande clube que derrote os ingleses tal como os casapianos em 1898 esses pioneiros tinham razão. Foi possível. A dezoito dias do Clube completar três anos! 



Honra aos vencidos

Os ingleses do Cabo Submarino, em Carcavelos, (camisola azul) com uma equipa das utilizadas em 1907. Da esquerda para a direita. Em pé: Saunders, Wheeler, Peile, Bellings, Perking e Thompson; Sentados: O'Connor, Green, Cattingbon, Burtenshaw e Frood

Glória aos vencedores
Uma equipa com dez dos onze heróis do 10 de Fevereiro. Da esquerda para a direita. 1.º nível (atrás): David Fonseca, Emílio Carvalho, Cândido Rosa Rodrigues, Marcial Costa, Fortunato Levy e, atrás, Carlos França; 2.º nível: Manuel Mora; 3.º nível: Queirós Santos, Albano Santos, António Couto e Cruz Viegas; 4.º nível (à frente): Manuel Gourlade; Arbitro ou adepto: desconhecido.  Em Carcavelos, em vez de Cruz Viegas jogou Henrique Costa.


A invencibilidade até 1898 e depois mais nove anos até 1907
Desde que os ingleses se estabeleceram em Carcavelos, em 1872, para desenvolver as comunicações através do cabo submarino instalando a rede telefónica em Portugal que nenhum grupo de portugueses - só onze portugueses - havia conseguido qualquer vitória. E mesmo grupos mistos só no ano anterior. De resto escassos empates e muitas vitórias para o lado inglês. Mesmo frente a outros grupos ingleses de Lisboa, do Porto ou de embarcações britânicas de passagem por Lisboa que os desafiavam. Em dia de feriado municipal em Lisboa, do padroeiro da cidade, São Vicente (22 de Janeiro de 1898) o grupo da Real Casa Pia de Lisboa desloca-se ao campo inglês derrotando-os por 2-0 (a crónica do jogo está digitalizada numa NOTA FINAL). Um feito que parecia impossível. Derrotar os senhores que inventaram o futebol ou como Cosme Damião gostava de os tratar - «os mestres ingleses»! Estes só voltariam a ser derrotados, em 10 de Fevereiro de 1907, mais de nove anos depois. Completam-se amanhã 110 anos. Por um clube que equipava com camisolas de flanela vermelha. Igualmente por um clube só com portugueses. O nosso!



Honra aos vencidos


Os ingleses do Cabo Submarino, em Carcavelos, (camisola branca com faixa azul) com uma equipa de 1893 mas com alguns futebolistas que jogariam até final do século XIX. Da esquerda para a direita. Em pé: Henry, Philip, Hardwick, Thomson e Trulock; Ao centro: Tunner, Howsin, Bryant, Keating, Palmers, Butler e Snock; Em baixo: Pittuck e Fraser 

Glória aos vencedores


Uma equipa casapiana muito próxima do "onze" da Real Casa Pia de Lisboa que fez história em 22 de Janeiro de 1898. Da esquerda para a direita. De pé: João Cambraia, António Couto, Emílio Carvalho, Raul Carapinha, Silvestre Silva, Januário Barreto, José Neto e Francisco Santos; Sentados: João Pedro, Pedro Guedes (capitão) e Bruno do Carmo. A vermelho sete casapianos que depois honraram as "flanelas vermelhas" após 28 de Fevereiro de 1904. 

Os argumentos em 1908
O "Gloriosíssimo" com as camisolas de flanela vermelha e calção branco não deixavam ninguém indiferente, estivessem dentro do campo a jogar ou fora dele a ver. Pouco mais de um ano depois da vitória que este blogue assinala, nas reuniões que levaram à junção dos dois clubes o Gloriosíssimo Sport Lisboa estava marcado. Era assunto importante e foi decisivo para que os principais símbolos do SLB fossem os seus: a data de fundação, os troféus entretanto conquistados, de SL para SL e B, a essência do emblema - o escudo com a altaneira Águia a agarrar erguendo bem alto a legenda «E Pluribus Unum» - sobreposto sobre o outro, a popularidade e o equipamento vermelho-e-branco. Principalmente este. Aquele que levava todos a transcenderem-se...


(clicar em cima das imagens para visualizar melhor o teor manuscrito)




Cento e dez anos depois
Cá estamos nós. Com este enorme (e mais que bom) legado deixado e engrandecido por tantas gerações de Benfiquistas. Cá estamos nós a transportar o "Fogo Sagrado"" como lhe chamou Félix Bermudes. Para que nunca se esqueça o que anda tão escondido. O nosso Glorioso Hino. Mais uma vez que nunca é demais. Antes pelo contrário.

«Todos por um!» eis a divisa,
Do velho Clube Campeão,
Que um nobre esforço imortaliza,
Em gloriosa tradição.

Olhando altivo o seu passado,
Pode ter fé no seu futuro.
Pois conservou imaculado
Um ideal sincero e puro.

Avante, avante p'lo Benfica,
Que uma aura triunfante Glorifica!
E vós, ó rapazes, com fogo sagrado,
Honrai agora os ases
Que nos honraram o passado!

Olhemos fitos essa Águia altiva,
Essa Águia heráldica e suprema,
Padrão da raça ardente e viva,
Erguendo ao alto o nosso emblema!

Com sacrifício e devoção
Com decisão serena e calma,
Dêmos-lhe o nosso coração!
Dêmos-lhe a fé! 
Dêmos-lhe a alma!

Avante, avante p'lo Benfica,
Que uma aura triunfante Glorifica!
E vós, ó rapazes, com fogo sagrado,
Honrai agora os ases
Que nos honraram o passado!

É isso mesmo. Somos Glorioso. Desde há 110 anos. Desde esse início de tarde histórica em Carcavelos.


Alberto Miguéns


AGRADECIMENTO: Ao inexcedível e guardião do saber casapiano Hélder Tavares. Falar com ele acerca destes assuntos é sempre aprender mais. Nunca é tempo perdido é sempre ocupar bem o tempo. 



NOTA FINAL: A crónica do jogo em 22 de Janeiro de 1898:




Outro jornal, o "Diário Ilustrado" deu um pequeno destaque:



6 comentários
  1. O Alberto começa logo bem pois apresenta o emblema do Carcavelos Club. Emblema que eu nunca tinha visto e que por sinal é muito bonito.

    A componente casapiana foi decisiva na história das primeiras duas décadas do nosso Clube. É sempre excelente ler as suas linhas sobre tão ilustres equipas e jogadores. Quem seriam os craques dessas equipas novecentistas da Real Casa Pia? Eu aposto em Couto, Emílio, Francisco Santos e David Fonseca. Curioso que Silvestre era o guarda redes e Persónio o avançado centro. Em 1904-1905 era ao contrário. Silvestre avançado marcou o golo do nosso primeiro jogo conhecido em 1-01-1905. Persónio andava pelas nossas balizas.

    Ganhar na Quinta Nova. Algo que o CIF ou o SCP ou qualquer outro clube Português conseguiu fazer! Belo texto alusivo a uma vitória que esteve na base do nome Glorioso, Gloriosíssimo. Obrigado.

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    1. Correcção:

      "Ganhar na Quinta Nova. Algo que o CIF ou o SCP ou qualquer outro clube Português não conseguiu fazer!"

      (assim está reposta a verdade histórica! SLB sempre melhor, sempre vencedor.)

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  2. António Madeira09 fevereiro, 2017 01:19

    Esta crónica de Manuel Machado, com quase 120 anos, é deliciosa.
    Mais uma autêntica pérola neste blogue.
    De resto, tinha ideia de que tínhamos sido os primeiros a vencer os ingleses com uma equipa totalmente composta por portugueses. Sempre a aprender, e com todo o gosto, sobre a nossa história e a do futebol.

    Umas pequenas achegas: a crónica fala de um resultado de 2-0 para os casapianos, mas o caro Miguéns escreve 2-1 no texto "Gloriosíssimo", uma pequena gralha, decerto.
    Não deixa também de ser curioso que, sabendo que "O Tiro Civil" era um semanário, a crónica tenha sido publicada somente 10 dias depois do jogo de 22 de janeiro de 1898.

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    1. Caro António Madeira

      Agradeço as simpáticas palavras.

      O 2-0 foi em 22 de Janeiro de 1898 pela equipa da Real Casa Pia de Lisboa. Depois tem a crónica do jogo no final.

      O 2-1 foi em 10 de Fevereiro de 1907 já pelo nosso Glorioso. Se clicar logo no início do texto tem acesso às crónicas deste jogo. Ou então ir por aqui:

      http://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2016/02/gloriosissimo.html

      TRIgloriosas Saudações

      Alberto Miguéns

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  3. António Madeira09 fevereiro, 2017 17:08

    Não sei se estou a cometer algum erro que me esteja a escapar, mas no texto "Gloriosíssimo", onde diz "Num jogo frente a um clube que tinha a equipa invencível desde 1898, quando um grupo de indomáveis casapianos, em 22 de Janeiro, lhes aplicou também 2-1!" não deveria dizer "2-0"?

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    Respostas
    1. Caro António Madeira

      Tem razão.

      Emendado.

      Obrigado

      TRIsaudações Benfiquistas

      Alberto Miguéns

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